quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Mamonas Assassinas: A morte a serviço da imortalidade.

"...Ficamos um tempão querendo ser iguais aos outros. Quando resolvemos ser a gente mesmo, o negócio rolou. Unimos o "útero" ao agradável..."



O Começo


     Estávamos no ano de 1995 e já fazia um bom tempo que o Rock não era mais a sensação do momento. Mas cinco rapazes viriam a mudar o cenário musical da época. Numa carreira meteórica, nunca uma banda fez tanto sucesso em tão pouco tempo. Os Mamonas Assassinas foram responsáveis por uma das maiores vendagens de disco no Brasil. Em um espaço curto de tempo venderam mais de 1 milhão de cópias e alcançaram um sucesso estrondoso.

      Antes da fama, Julio Rasec, Bento Hinoto e os irmãos Samuel Reoli e Sérgio Reoli, formavam em Guarulhos - SP, uma banda chamada Utopia especializada em covers de Rush e Legião Urbana. Durante uma apresentação num ginásio da cidade o público pediu para que fizessem um cover da banda Guns N'Roses. Como nenhum deles sabia a letra, chamaram alguém da platéia para subir ao palco e cantar. Um rapaz que atendia por Dinho se apresentou, mas ele também não sabia a letra da música. Levou o público às gargalhadas com as palhaçadas que fez, com isso acabou sendo convidado a fazer parte da banda.

      A Utopia passou a fazer apresentações periódicas pela cidade de São Paulo. Participaram de programas televisivos regionais e chegaram até a gravar um disco que não vendeu mais que cem cópias. A Utopia se caracterizava pela seriedade de suas músicas, mas como não conseguiram alcançar o sucesso esperado decidiram investir numa mudança radical. Não foi uma tarefa difícil, pois todos já tinham por natureza um espírito brincalhão e também já tinham escrito diversas músicas com letras engraçadas para brincar com amigos e parentes.


     A primeira providência foi modificar o nome da banda. Entre opções como Os Cangaceiros De Teu Pai, Coraçõezinhos Apertados, Uma Rapa de Zé e Tangas Vermelhas, acabaram escolhendo Mamonas Assassinas, pois segundo o vocalista foi o nome que mais os fez rir. Engana-se quem pensa que o nome foi inspirado naquelas famosas frutinhas verdes e espinhentas. Na verdade o nome significava seios grandes como pode ser identificado no nome em inglês que criaram para a banda: The Killer Big Breasts.

     Gravaram uma fita demo e enviaram para diversas gravadoras. De início foram rejeitados por todas, mas Rafael Soares, amigo da banda, baterista do grupo Baba Cósmica, era filho do diretor artístico da EMI-Odeon, João Augusto Soares, e foi através dele que João conheceu o som dos Mamonas e resolveu investir naquele grupo irreverente. Assinaram contrato, e em Abril de 95 lançaram o primeiro e único disco auto-intitulado, onde as piadinhas estavam incluídas das músicas até os agradecimentos no encarte.

     Com o trabalho de uma assessora de imprensa contratada pelo empresário do grupo (e praticamente o sexto Mamona) Rick Bonadio, fizeram sua primeira aparição para o Brasil no programa Jô Soares Onze e Meia. A partir daí o sucesso foi inevitável. O disco começou a vender como água devido ao sucesso da faixa "Vira-Vira", uma música que conta as aventuras sexuais de um casal português numa paródia do cantor, também português, Roberto Leal.

     Essa foi a primeira música a estourar, mas não demorou muito para que todas as faixas do disco estivessem na boca de todos. "Pelados em Santos", "Chopis Centis", "Mundo Animal", "Robocop Gay", "Sábado de Sol", entre outras eram executadas a exaustão nas rádios de todo o Brasil. Em diversas músicas Dinho fazia imitações perfeitas de famosos cantores brasileiros, como Belchior na faixa "Uma Arlinda Mulher".

     Eram em média cinco shows por semana, estavam nas capas das revistas mais importantes do Brasil e as apresentações em programas de televisão se tornaram frequentes. Claro que a crítica musical ficou horrorizada com o sucesso de uma banda como os Mamonas Assassinas. Eram tachados de ridículos e palhaços da música, mas o público não estava nem aí.

     Com uma sonoridade pop/rock que em algumas canções misturavam diversos elementos de outros estilos musicais, passavam do hard rock ao heavy metal sem dificuldades. Arranjos criativos, letras escrachadas e divertidas conquistaram jovens, adultos, idosos e crianças.

     O grupo era aceito em todos os canais, para divulgar seu único disco auto-intitulado de Mamonas Assassinas. Sucesso em todo Brasil, tendo conquistado principalmente o público infantil, o grupo paulista viveu uma das últimas grandes épocas da venda de CD.

     As letras, que primavam por duplo sentido e pobreza estética, caiu como uma luva no gosto popular. Vez por outra, a sociedade brasileira escolhe o seu "quanto pior melhor" para cantar junto, chorar junto, brincar junto e sofrer junto. Imagino que em tempos de twitter, Dinho (vocalista) seria um daqueles que teria mais de 1 milhão de seguidores, 'brincando'.

     Os Mamonas Assassinas conseguiram o 'mérito' de fazer crianças de 3,4,5 anos cantarem músicas com a seguinte pérola: "Roda, roda e vira, solta a roda e vem/Já me passaram a mão na bunda e ainda não comi ninguém/Neste raio de suruba, já me passaram a mão na bunda/E ainda não comi ninguém!". Nesta hora, as letras deixam de ser classificadas como de pleno 'mal gosto' para trazerem 'alegria aos lares brasileiros'.





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O Final

     Mas um acidente fatídico viria a interromper a carreira dos jovens de Guarulhos. Em 2 de Março de 1996 a banda voltava de sua última apresentação no país, em Brasília, de onde partiriam para uma turnê em Portugal, quando o avião Learjet onde viajavam se chocou com a Serra da Cantareira em São Paulo.

       Esse acontecimento chocou o Brasil. Não se via tanta tristeza no país deste a morte do piloto Ayrton Senna quase dois anos atrás. Milhões de pessoas acompanharam tudo pela TV, desde o resgate dos corpos até o enterro na cidade de Guarulhos. No velório foram milhares de pessoas se espremendo para dar o último adeus àqueles que haviam se tornado ídolos nacionais. Depois disso os Mamonas tiveram lançados bonecos, livros, cd-rom, álbum de figurinhas e uma coletânea com versões ao vivo de algumas músicas e faixas inéditas. Os Titãs chegaram a gravar um cover da música "Pelados em Santos" no álbum "As Dez Mais".

     
     Até hoje críticos musicais e estudiosos da sociedade se perguntam como foi que um grupo como os Mamonas Assassinas alcançou tanto sucesso entre todas as faixas etárias e sociais da nossa população. Todos procuram uma explicação para a fama estrondosa que o grupo alcançou. Seria o estilo musical? Seriam as letras das músicas? Seria a irreverência de seus integrantes? Será que o povo estava precisando de alegria? Será que eram apenas uma moda passageira? Apenas se tornaram um mito devido ao acidente que interrompeu drasticamente suas vidas?

    O fato é que, os Mamonas Assassinas, quebraram todas as barreiras da moral e de bons costumes, tornando-se uma das bandas mais populares e saudosas já vistas no Brasil. Calando a boca de críticos musicais conservadores e de muita gente que tachava-os de mau-exemplo para as crianças brasileiras. E até hoje as músicas dos Mamonas são tocadas em festas, bailes, barzinhos, entre outros. 

      Sem dúvidas, Dinho, Júlio Rasec, Bento Hinoto, Samuel e Sérgio Reoli, vão ficar eternizados durante muito tempo na memória de muita gente que teve a oportunidade, e a honra de viver na época, em que os quatro rapazes de Guarulhos fizeram história no cenário musical brasileiro.
 

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